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sexta-feira, 16 de julho de 2010

Espanha confirma que é a melhor seleção do mundo



Nunca se pode contestar uma seleção quando esta é campeã do mundo. Apesar de ser o torneio que premia o melhor do mês, são poucos os que conseguem o feito. Mesmo assim, ao fim das duas últimas Copas, não lembro de ter saído com a sensação de que venceu a melhor equipe do planeta. A Espanha de 2010 me deu esse sentimento.

O Brasil de 2002 se classificou nas eliminatórias sul-americanas no sufuco e foi um time que venceu graças ao talento de dois jogadores e com o mérito de um sistema defensivo com três zagueiros e dois volantes. A Itália de 2006 então, nem se fala. Um time super-defensivo, que jogava no erro do adversário, e tinha apenas três talentos individuais, sendo que um deles era reserva (Pirlo, Totti e Del Piero, com o juventino no banco).

Em 2010 foi diferente. Venceu a melhor. A Espanha vem sendo a melhor desde 2008, quando venceu a Eurocopa. De 2007 para cá, uma campanha irrepreensível, com 50 vitórias, três empates e duas derrotas em 55 partidas. Isso mesmo. Duas derrotas. Aproveitamento de 92,7% (considerando que a vitória vale três pontos e o empate um).

Pode-se até contestar que os espanhóis não tiveram o melhor futebol da Copa, já que a Alemanha teve um grande desempenho ao golear fortes adversários, ao passo que time dirigido por Vicente Del Bosque venceu todos os jogos do mata-mata por 1 a 0, sendo que a final foi somente na prorrogação. Mas acho que a discussão perde sentido após assitir a partida semifinal, quando a equipe de Xavi e Iniesta demosntrou todas as suas qualidades e acabou com jovem seleção de Joaquim Low.

Qualidades estas que vem sendo mostradas desde 2008, quando o trabalho foi iniciado pelo técnico campeão da Euro, Luis Aragonés. O esquema é o mesmo que muitas seleções utilizaram nesta Copa, o 4-2-3-1. A diferença é que os espanhóis valorizam a posse de bola, movimentam-se todo o tempo e os volantes saem para o jogo com qualidade, caracteristica não tão comum em outras equipes (que o digam os nossos Gilberto Silva e Felipe Melo).

Além disso o time de Del Bosque marca por pressão e muitas vezes rouba a bola no campo de ataque. Ao fazer isso, pega o adversário desarrumado e está muito mais perto do gol.

Os espanhóis tiraram o peso das costas. A seleção era sempre conhecida por amarelar nos momentos decisivos. Dessa vez não. E esse time, além dos títulos ganhos e do aproveitamento inacreditável, é o melhor que o país já teve. Um goleiro que está entre os melhores do mundo há anos, laterais que não comprometem, zagueiros de velocidade e qualidade, o melhor meio-campo do mundo e atacantes letais. Um bom banco de reservas. Uma equipe que não se intimida, venha quem vier. Quem impõe seu jogo, ao pegar a bola e a controlar na maior parte do tempo.

Comparando com as touradas, bastante comum na Espanha, a seleção espanhola chama o touro para dançar. Por aqui, por ali. De um lado para o outro. Quando menos se espera vem o golpe. E novamente o touro é chamado para o bailado. Entre uma tourada e outra, o touro golpeia e, por distração ou azar, o toureiro as vezes sai derrotado. Estados Unidos, na Copa das Confederações, e Suiça, na primeira partida desta Copa, foram os touros que obtiveram sucesso contra a Espanha nestes últimos dois anos. Nem por isso o toureiro perdeu a pose e mudou seu estilo. Nem deveria.

A vitória espanhola levanta outra questão. Ao se perceber o fracasso de gigantes como Itália e Inglaterra, logo se percebe que a globalização impede o surgimento de novos talentos nestes países, recheados de atletas de todos os cantos do planeta. Na Espanha não é muito diferente, exceto no Barcelona. A melhor equipe do mundo (isso é discussão para outra oportunidade) privilegia as categorias de base. Do time titular barcelonista, sete são espanhóis, quantia inimaginável nas outras potências európeias. Isso se reflete na seleção, onde seis titulares da final (tirando David Villa, contratado para esta temporada) são do clube de Pep Guardiola.

Enfim, a vitória da Espanha foi uma vitória do futebol. Venceu quem jogou bonito, quem apostou na técnica, no ataque, no talento. Quando olharmos para trás, veremos que ganhou a melhor. Com certeza será uma das melhores lembranças dos anos 2000.

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